28 de abril de 2010

Uma Contra-fábula (parte 2)

E bem naquele momento a Raposa ia saindo de fininho por entre uns arbustos. Todos conhecem a agilidade desses animais, mas, diante da multidão de animais furiosos, toda a agilidade do mundo não seria suficiente. A fazenda inteira cercou a Raposa e não teve jeito de escapar! Lá foi ela para a cela de madeira e arame que era o antigo galinheiro desativado depois da construção de outro muito mais moderno.
Enquanto os bois interrogavam a Raposa e os outros animais gritavam por justiça do lado de fora, o esquilo detetive e seu companheiro Rato caminhavam pela cena do crime.
O Rato aproximou o focinho do chão para observar as pegadas de perto e teve uma surpresa.
- Olhe, esquilo! Há algumas pegadas minúsculas misturadas às pegadas da raposa!
- Mas que intrigante, caro rato. – o Esquilo se abaixou para ver. – os bois só viram as pegadas maiores.
- É que eles são muito grandes! Só um animal pequenino como nós enxergaria isso. Você acha que tem relação com o seqüestro?
- Talvez sim. Um animal minúsculo pode ter aproveitado as pegadas da Raposa para disfarçar as suas próprias pegadas.
- Um animal não, vários. Há centenas de pegadas minúsculas aqui. Devemos avisar os bois?
- Melhor não, vamos colher mais evidências.
Os dois observaram os pelos presos às vigas de madeira. Havia sangue nos pêlos. Será que a Raposa havia se machucado?
Nesse momento, os dois amigos ouviram uma gritaria. Os bois policiais saiam da cadeia com a Raposa amarrada pelas patas e todos os animais os cercavam.
- O interrogatório não deu em nada! – explicou a Vaca Delegada. – A Raposa não quer confessar. Vamos nos dividir em grupos e procurar o avestruz seqüestrado.
E assim foi feito. Jogaram a Raposa nas costas de um cavalo e saíram todos à procura. Mamíferos pelo chão, aves observando tudo do alto e insetos auxiliando nos lugares mais escondidos.
Caminhando pela mata, um Boi Policial insistia para que a Raposa dissesse o lugar do cativeiro.
- Eu não seqüestrei o Avestruz! – repetia ela.
- Todas as evidências estão contra você! – respondia ele. – Confesse e sua pena não será tão dura.
Foi nessa hora que a Cigarra Cantante parou para observar algo muito estranho.
- O que foi, Cigarra? Já cansou-se da busca? – riu um dos cavalos.
- Olhe bem para lá. – respondeu ela, pousando sobre as costas do cavalo. – Olhe o formigueiro.
- O que tem ele?
- Está enorme! Ontem não era nem metade disso.
O cavalo olhou, olhou e achou estranho, mas nem ligou. Era verdade, o monte de terra estava muito mais alto e largo do que de costume. Era quase uma montanha!
- Isso não é normal! – insistiu a Cigarra.
- Ora, Cigarra, as formigas cavaram muito e formaram um formigueiro maior, é só isso.
- Não é possível! Não dá pra construir algo assim da noite pro dia.
- Ah, pra você não dá mesmo! Você só fica cantando e não gosta de trabalhar, como qualquer cigarra. Já as formigas são trabalhadoras, todos sabem disso.
Sem perder mais tempo, o cavalo continuou seu caminho, procurando o avestruz. A cigarra sentia-se frustrada e ofendida. Mas nem ela nem o cavalo perceberam que o Esquilo Detetive e seu companheiro Rato haviam ouvido a conversa e estavam intrigados, como sempre estão os detetives, com o crescimento repentino do formigueiro.
- A Cigarra pode ter razão, vamos lá falar com ela, Rato! – disse o Detetive ao amigo, que concordou.
Passados alguns minutos, os dois foram conversar com a Cigarra sobre o ocorrido.
- Dona Cigarra, desde quando a senhora notou a mudança de tamanho do formigueiro? – perguntou o Detetive.

23 de abril de 2010

Uma Contra-fábula (parte 1)

A pressa é inimiga da perfeição
.
Tá bom, isso é só uma desculpa pra quase dois meses sem postar nenhum continho, nenhuma historinha pra boi dormir sequer! Mas, pra compensar a demora, apresentamos o primeiro conto em capítulos da história da literatura. (rs.) É que nossa última criação ficou um pouco (pouquinho só) longa e será dividida em 3 posts, pra não matar ninguém de tanto ler em tela de computador. Esperamos que apreciem, boa leitura!
Uma Contra-fábula
O sol mal tinha começado a iluminar a fazenda naquela manhã quando a notícia se espalhou. Os primeiros a se dar conta do ocorrido foram alguns jovens avestruzes dentro do cercado. Logo o Cavalo Jornalista, que cruzava o pasto dando as notícias do dia, foi informado e galopou para avisar a todos. O Sabiá Mensageiro passava cantarolando quando ouviu tudo e voou para alertar seus companheiros de penas.
Quando os animais se reuniram perto do cercado dos avestruzes, o pano já estava espalhado e todos queriam confirmar a verdade: havia mesmo ocorrido ali um crime?
- Como aconteceu? – indagava uma égua.
- Será que ele não se escondeu em algum canto e está rindo da nossa preocupação? - ponderava um pardal.
Mas o fato é que os avestruzes mais velhos já haviam procurado em todos os cantos dentro do cercado e os cavalos haviam feito o mesmo do lado de fora. Mesmo os pássaros que cruzaram os céus nada conseguiram avistar.
- Não há mais dúvidas... – anunciou o Cavalo Jornalista. – Seqüestraram um avestruz!
Na fazenda de avestruzes Monte Alegre, em Avaré, nunca ocorrera algo do gênero. Tudo sempre havia funcionado corretamente. As mamães avestruzes punham ovos, os mais velhos cuidavam dos mais novos, que cresciam e engordavam. Os cavalos tomavam conta do cercado, os pássaros vigiavam tudo dos céus. Os humanos donos daquela propriedade pareciam sempre satisfeitos.
Mas agora toda aquela paz parecia ter acabado. O que teria acontecido com o jovem avestruz desaparecido?
Um acontecimento desses não podia ficar em branco, a bicharada precisava de uma investigação, afinal, não é todo dia que um avestruz some da noite para o dia! Mas isso não era um trabalho para qualquer um, é preciso talento, perfeccionismo. Precisavam de um profissional e este profissional era o Esquilo. Não qualquer Esquilo, mas ô Esquilo!
A bem verdade... Ninguém confiava no Esquilo e em seu trabalho, ele não fazia o jeitão de um detetive como daqueles que vemos nos livros. Não tinha aquela altura e nem a ardileza características de Sherlock Holmes, era uma criaturinha pequena, cuja aparência numa primeira vista não inspirava nada além de frágil, e apesar do tamanho falava mais do que todo o galinheiro junto.
Claro que não poderia faltar a qualquer detetive um parceiro, e, apesar dos pesares, com o Esquilo não era diferente: rato era desempenhava o papel do Watson. Outro animal de pequeno porte, mas ao contrário do amigo, era mais quieto, aparentemente. A polícia local, os bois, não davam qualquer tipo de credibilidade ou até mesmo respeito à função desempenhada pela dupla de roedores, os ignoravam por completo, de tal modo que pra resolver aquele caso teriam que conseguir tudo por seus próprios esforços e contar com a máxima cooperação dos demais.
Apesar da lentidão comum para assuntos do gênero, a polícia tinha um suspeito, e, naquela mesma tarde, interrogariam testemunhas da vizinhança do cercado dos avestruzes: os cavalos e a raposa.
Os cavalos tinham passado a noite jogando baralho, mas não tinham incomodado os vizinhos, as éguas discutiram com os avestruzes sobre a fotossíntese das plantas. Todos os animais se reuniram para ouvir os eqüinos tinham a dizer, mas já havia sido sentenciado um culpado.
A Vaca Delegada foi a primeira autoridade a chegar à cena do crime. P coberto feito de madeira e telhas onde dormia o jovem avestruz e seus irmãos havia sido isolado e ninguém tinha permissão para entrar. Os bovinos peritos vasculharam a área e já possuíam um laudo técnico sobre o caso. Todos os animais reunidos ali conversavam numa barulheira sem tamanho. Era hora de acalmar a todos e dar algumas informações. A Vaca Delegada pediu silêncio.
- Amigos moradores da fazenda, sinto informar que, após duas horas de buscas, ainda não temos notícias do jovem avestruz. Trabalhamos com a hipótese de seqüestro e temos fortes evidências sobre o autor do crime.
Todos arregalaram os olhos, curiosos, e os burburinhos recomeçaram.
- Por favor, silêncio! – continuou ela. – O Boi Perito-Chefe dará alguns esclarecimentos.
O boi deu dois passos à frente.
- Bem, encontramos algumas pegadas ao redor do dormitório dos avestruzes jovens. E também um pouco de pêlo preso em uma das vigas de sustentação do lugar.
- E de que animal são as pegadas e o pêlo? – indagou o Esquilo detetive, intrigado como todo detetive sempre é.
- De raposa!
Todos se agitaram. As galinhas gritaram:
- Só podia ser! Essa raposa não é de confiança, nenhuma raposa é!
- Eu sempre soube que raposas atacavam galinhas, mas nunca imaginei que os avestruzes se tornariam suas vítimas! – exclamou uma égua malhada.
- Oh, meu deus! Será que meu menino está bem? – desesperou-se a mãe do jovem avestruz.
- Esperem! – interrompeu o esquilo Detetive. – São estas todas as provas? Só com isso vocês podem ter certeza sobre a autoria do crime?
- Ora, é evidente que a raposa é a seqüestradora! – disse o Sabiá Carteiro. – As raposas são sempre culpadas! Sempre maliciosas!
- Isso mesmo. – respondeu a multidão de animais. – Prendam a Raposa!